Trabalho 1º Ano do EM.
Título: Certidão do Brasil.
Grupos
de até 5 alunos.
A
capa deve seguir a orientação dos
trabalhos anteriores.
Poderá ser entregue:
impresso (fonte Arial ou Times – tamanho 12) ou manuscrito.
Entrega:
1ºC –
20/11;
1ºD
– 19/11;
1ºE
– 18/11.
Leia o seguinte fragmento da Carta
de Pero Vaz de Caminha para responder ao questionário. Algumas questões
necessitam de pesquisa sobre o Quinhentismo Literário brasileiro, todavia, a
pesquisa não deve ser entregue, servirá somente de base teórica de apoio e
elucidação acerca das questões.
As perguntas devem estar no
trabalho.
Neste
dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande
monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra
chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o
Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz (...)
Dali
avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram
os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e
esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão-mor,
onde falaram entre si. E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau
Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram
pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar
o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos
nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos
com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez
sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver
fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. (...)
E
estando Afonso Lopes, nosso piloto, em um daqueles navios pequenos, por mandado
do Capitão, por ser homem vivo e destro para isso, meteu-se logo no esquife a
sondar o porto dentro; e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de
bons corpos, que estavam numa almadia. Um deles trazia um arco e seis ou sete
setas; e na praia andavam muitos com seus arcos e setas; mas de nada lhes
serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos
com muito prazer e festa. – (Almadia – canoa)
A
feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou
de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e
verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão,
agudos na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a
parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali
encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou
no beber. (...)
O
Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um
colar de ouro mui grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho
de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires Correia, e nós outros que
aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se
tochas. Entraram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão
nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no colar do Capitão, e começou de acenar
com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que ali
havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a
terra e novamente para o castiçal como se lá também houvesse prata.
Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na
mão e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali. Mostraram-lhes um
carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram medo
dela: não lhe queriam pôr a mão; e depois a tomaram como que espantados.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos
passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram,
logo a lançaram fora. Trouxeram-lhes vinho numa taça; mal lhe puseram a boca;
não gostaram nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhes a água em uma albarrada.
Não beberam. Mal a tomaram na boca, que lavaram, e logo a lançaram fora. Viu um
deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com
elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para
a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que
dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se
ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós
entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas
dera. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com
cabelos muito pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão
cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não
tínhamos nenhuma vergonha. Ali por então não houve mais fala ou entendimento
com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia
ninguém. Também andavam, entre eles, quatro ou cinco mulheres moças, nuas como
eles, que não pareciam mal. Entre elas andava uma com uma coxa, do joelho até o
quadril, e a nádega, toda tinta daquela tintura preta; e o resto, tudo da sua
própria cor. Outra trazia ambos os joelhos, com as curvas assim tintas, e também
os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas e com tanta inocência descobertas,
que nisso não havia nenhuma vergonha. Também andava aí outra mulher moça com um
menino ou menina ao colo, atado com um pano (não sei de quê) aos peitos, de
modo que apenas as perninhas lhe apareciam. Mas as pernas da mãe e o resto não
traziam pano algum. (...)Trazia este velho o beiço tão furado, que lhe caberia
pelo furo um grande dedo polegar, e metida nele uma pedra verde, ruim, que
cerrava por fora esse buraco. O Capitão lha fez tirar. E ele não sei que diabo
falava e ia com ela direito ao Capitão, para lha meter na boca. Estivemos sobre
isso rindo um pouco; e então enfadou-se o Capitão e deixou-o. E um dos nossos
deu-lhe pela pedra um sombreiro velho, não por ela valer alguma coisa, mas por
amostra. Depois houve-a o Capitão, segundo creio, para, com as outras coisas, a
mandar a Vossa Alteza. Andamos por aí vendo a ribeira, a qual é de muita água e
muito boa. Ao longo dela há muitas palmas, não muito altas, em que há muito bons
palmitos. Colhemos e comemos deles muitos. Então tornou-se o Capitão para baixo
para a boca do rio, onde havíamos desembarcado.
Além
do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se
tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias,
almoxarife que foi de Sacavém, que é homem gracioso e de prazer; e levou
consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar,
tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao
som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas
ligeiras, e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito. E
conquanto com aquilo muito os segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como
de animais monteses, e foram-se para cima.
E
então o Capitão passou o rio com todos nós outros, e fomos pela praia de longo,
indo os batéis, assim, rente da terra. Fomos até uma lagoa grande de água doce,
que está junto com a praia, porque toda aquela ribeira do mar é apaulada por
cima e sai a água por muitos lugares. E depois de passarmos o rio, foram uns
sete ou oito deles andar entre os marinheiros que se recolhiam aos batéis. E
levaram dali um tubarão, que Bartolomeu Dias matou, lhes levou e lançou na
praia. (...)
Os
outros dois, que o Capitão teve nas naus, a que deu o que já disse, nunca mais
aqui apareceram – do que tiro ser gente bestial, de pouco saber e por isso tão
esquiva. Porém e com tudo isso andam muito bem curados e muito limpos. E
naquilo me parece ainda mais que são como aves ou alimárias monteses, às quais
faz o ar melhor pena e melhor cabelo que às mansas, porque os corpos seus são
tão limpos, tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser. Isto me faz
presumir que não têm casas nem moradas a que se acolham, e o ar, a que se
criam, os faz tais. Nem nós ainda até agora vimos nenhuma casa ou maneira
delas. (...)
E,
segundo que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhes falece outra coisa
para ser toda cristã, senão entender-nos, porque assim tomavam aquilo que nos
viam fazer, como nós mesmos, por onde nos pareceu a todos que nenhuma
idolatria, nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem
entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados ao desejo de Vossa
Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os
batizar, porque já então terão mais conhecimento de nossa fé, pelos dois
degredados, que aqui entre eles ficam, os quais, ambos, hoje também comungaram.
(...) De ponta a ponta, é toda praia parma, muito chã e muito formosa. (...)
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos,
não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela,
até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal
ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares, assim frios
e temperados como os de Entre Douro e Minho, porque neste tempo de agora os
achávamos como os de lá. Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é
graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que
tem. Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve
lançar. E que aí não houvesse mais que ter aqui esta pousada para esta
navegação de Calecute, bastaria. Quando mais disposição para se nela cumprir e
fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa santa
fé. (...)
Beijo
as mãos de Vossa Alteza.
Deste
Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de
maio de 1500.
Pero
Vaz de Caminha
Questionário:
1.
A Carta de Pero Vaz de Caminha é um
texto informativo, crônica informativa, Literatura que marcou o século XV em Portugal.
Por que este documento pode ser considerado a Certidão de Nascimento do Brasil?
2.
Qual foi o primeiro estranhamento
dos portugueses com a nova terra?
3.
No primeiro contato entre o Capitão e os
habitantes locais, houve uma ressalva de Caminha quanto ao comportamento dos
índios. Que procedimento foi esse e o que ele revela?
4.
O que os seguintes trechos revelam
sobre o futuro da terra de Vera Cruz:
“...um deles pôs olho no colar do
Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como
que nos dizendo que ali havia ouro.”
“Viu um deles umas contas de rosário,...
e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o
colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós
assim por assim o desejarmos.”
5.
"Quando Pero Vaz Caminha
Descobriu que as terras brasileiras
Eram férteis e verdejantes,
Escreveu uma carta ao rei:
Tudo que nela se planta,
Tudo cresce e floresce.
E o Gauss da época gravou". Caetano Veloso – Tropicália
De que maneira este
trecho de “Tropicália” dialoga com a Carta de Pero Vaz de Caminha? Não deixe de
incluir em sua análise menção de trecho da carta que a justifiquem.
6.
Revela-se no texto outro movimento
literário, fora o informativo, que marcou o “Quinhentismo”. Movimento que se
caracteriza pela propagação da fé cristã. Que movimento foi esse e como ele é
ressaltado na carta?
7.
Como pode ser perceptível a
exaltação de Caminha pelas terras descobertas?
8.
Com base na leitura, produza uma
análise salientando o choque cultural entre o colonizador e o colonizado.