23 de fevereiro de 2014

Não tem tradução - Noel Rosa

Não Tem Tradução
Noel Rosa

O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que o xadrez
Lá no morro, seu eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote
Na gafieira dançar o Fox-Trote
Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny

Só pode ser conversa de telefone...


19 de fevereiro de 2014

Trabalho - 2ºA e 3ºA - Períodos Literários, 1º Bimestre, 2014.

Períodos Literários.


O seguinte trabalho tratará de uma revisão dos Períodos Literários. Sendo ele composto de duas partes, escrita e seminário. Os Períodos serão divididos por grupos em sala de aula.

Saliento, pesquisa não é cópia, se fizerem essa, para entregar-me, estarão corrompendo o 21º Mandamento de Carrasco e correm o risco de arderem no inferno!

Grupos de: 5 até 8 integrantes.

Entrega e Apresentação:
2º Ano A – 18/03/2014
3º Ano A – 20/03/2014

Parte escrita:
Miolo do trabalho:
Fontes: Times New Roman ou Arial, tamanho, 12
Capa: as mesmas fontes, no entanto, pode-se utilizar tamanhos acima do 12.
Na seguinte ordem:

01. Capa

02. Dedicatória
A dedicatória deve estar isolada na folha e na parte inferior e direita desta. Veja um exemplo:


03. Epígrafe
Citar um trecho de poema, uma máxima que venha ao encontro do que será tratado no trabalho, um autor do Período Literário estudado, como na dedicatória, uma página somente para a Epígrafe. Veja o exemplo:



04. Sumário

05. Introdução
O trabalho começará a ser enumerado a partir dessa seção como página 04. Não deverá fazer parte da página de introdução nenhum outro tópico, ela deve estar isolada.
Na introdução, deverá realizar uma apresentação do trabalho, isto é, do tema a ser tratado, como o trabalho foi organizado, quais as pesquisas realizadas e o objetivo a que se espera alcançar com tal.

06. Momento histórico
Destacar os fatores históricos que influenciaram os movimentos artísticos. No caso de alguns movimentos, como o Barroco, destacar os aspectos de Brasil e Portugal.

07. A sociedade
Discorrer como era a organização da sociedade, os pensamentos que influenciaram a época, como o iluminismo, como visto em sala de aula, o Teocentrismo ou Antropocentrismo, contrarreforma, ou seja, linhas filosóficas que foram determinantes nas expressões estéticas.

08. Características Estéticas
Não esgote o tema, será tratada mais pormenorizadamente nas partes 09 e 10.
Traços comuns que marcaram as Artes. Como a exuberância verbal no Barroco, ou o culto à natureza presente no Romantismo, a melancolia tão presente nessa Literatura, a fé na razão do Realismo. Isto é, características artísticas que marcaram diversas obras influenciando as suas composições, seja na Literatura, arquitetura, música, pinturas.

09. Literatura e principais nomes
Retomando o item anterior, todavia se aprofundando mais nesses aspectos que marcaram a Literatura, como a expansão marítima que tanto influenciou o Classicismo, e seu grande nome, Camões com ‘Os Lusíadas’.
Assim sendo, nesse tópico, dever-se-á realizar um estudo amiúde acerca das características estéticas na literatura e a influencia dos fatores históricos, sociais e culturais.
Desenvolver sobre os principais autores, qual a razão de seu destaque dentro do movimento, como o Gil Vicente no Humanismo, suas obras e características.

10. Outras expressões artísticas
Relatar como se refletiu este momento artísticos em outras expressões, como  na arquitetura, pintura e música. Como se tratam de algumas artes visuais, é importante ilustrá-las no trabalho e também na apresentação com cartaz ou slide.
No caso do uso de slides na apresentação, solicitar com duas semanas antes ao professor a reserva da sala de vídeo.

11. Conclusão
Nessa seção serão explicitadas as conclusões, os resultados alcançados com o estudo, pesquisa, qual foi o objetivo, o ensinamento, aprendizado retirado após o término do trabalho

12. Referência Bibliográfica
Citar as fontes de pesquisas, como: sites, revistas, livros, enciclopédias...

Seminário:
Apresentação de todo o trabalho escrito, como a análise. O grupo poderá utilizar slides, cartazes para enriquecer a apresentação, critério que será analisado para nota. Como o áudio, no caso da música.


Os que optarem por slides deverão solicitar a reserva da sala de vídeo comigo com duas semanas de antecedência.

Lusofonia - Trabalho - 1º Anos C e D - 1º Bimestre, 2014.

Trabalho 1º Bimestre, 1º Anos C e D.
Entrega e apresentação:
1º C – 18/03/2014;
1º D – 20/03/2014.

Lusofonia          
Angola;
Cabo Verde;
Guiné-Bissau;
Moçambique;
São Tomé e Príncipe.

Grupo – de 5 até 8 integrantes.
Objetivo.
Cada um dos grupos (a ser decidido em sala de aula acerca de qual país tratará) fará um estudo sobre a História, Cultura, a Língua Portuguesa nesse país, Literatura e Artes.
O trabalho contará com parte escrita e seminário.
O trabalho trata-se de uma pesquisa e não cópia. Os que fazem essa, estão indo contra o 21º Mandamento de Carrasco e correm o risco de arderem no inferno.

Parte escrita.
Miolo do trabalho:
Fontes: Times New Roman ou Arial, tamanho, 12
Capa: as mesmas fontes, no entanto, pode-se utilizar tamanhos acima do 12.
Na seguinte ordem:
1. Capa – modelo:

2. Epígrafe:
Citar um trecho de poema, uma máxima que venha ao encontro do que será tratado no trabalho, por exemplo, sobre a Literatura Angolana, citar um trecho de poema de um escritor deste país.
No exemplo a seguir, início do poema ‘Tabacaria’, do português, Fernando Pessoa.



Epígrafe - Dicionário Houaiss, 2010
1       título ou frase que, colocada no início de um livro, um capítulo, um poema etc., serve de tema ao assunto ou para resumir o sentido ou situar a motivação da obra; mote
2       fragmento de texto, citação curta, máxima etc., colocada em frontispício de livro, no início de uma narrativa, um capítulo, uma composição poética etc.

3. Sumário:


4. Introdução:
O trabalho começará a ser enumerado a partir dessa seção como página 03. Não deverá fazer parte da página de introdução nenhum outro tópico, ela deve estar isolada.
Na introdução, deverá realizar uma apresentação do trabalho, isto é, do tema a ser tratado, como o trabalho foi organizado, quais as pesquisas realizadas e o objetivo a que se espera alcançar com tal.

5. História do país
Um breve estudo sobre a história do país objeto de estudo. A colonização e suas lutas por independência, movimentos que fizeram parte dessas lutas, principais nomes.

6. A Língua Portuguesa no país
Mencionar que é a Língua oficial do país. As outras Línguas utilizadas, como o Kimbundu em Angola. Como vivem estas Línguas entre si. Lembrando-se  que a Língua é um patrimônio cultural de um povo e como é que a Língua Portuguesa é tratada, as influências de outras Línguas e como ela reflete a colonização.
Ressaltar a cultura oral.

7. Cultura e Arte
Discorrer sobre as atividades culturais, como dança e música e outras manifestações artísticas, como a pintura. Como elas dialogam com a história do país e reforçam as características de um povo.
Enriqueça seu trabalho com imagens.

8. Literatura
Como é marcada a Literatura nesse país. As influências da oralidade. Literatura panfletária. Como que a Literatura reflete a realidade de um povo.
Os principais escritores.

9. Análise de ?
O grupo elegerá um poema ou conto de um escritor desse país e irá analisa-lo, como essa produção reflete a cultura e história de um povo. De acordo como são realizadas as análises em sala de aula.

10. Conclusão
Nessa seção serão explicitadas as conclusões, os resultados alcançados com o estudo, pesquisa, qual foi o objetivo, o ensinamento, aprendizado retirado após o término do trabalho

11. Referência Bibliográfica
Citar as fontes de pesquisas, como: sites, revistas, livros, enciclopédias...

Seminário:
Apresentação de todo o trabalho escrito, como a análise. O grupo poderá utilizar slides, cartazes para enriquecer a apresentação, critério que será analisado para nota. Como o áudio, no caso da música.

Os que optarem por slides deverão solicitar a reserva da sala de vídeo comigo com duas semanas de antecedência.

16 de fevereiro de 2014

Estória da Galinha e do Ovo, José Luandino Vieira



Para Amorim e sua ngoma:
sonoros corações da nossa terra.

A estória da galinha e do ovo. Estes casos passaram na musseque Sambizanga,
nesta nossa terra de Luanda.
Foi na hora das quatro horas.
Assim como, às vezes, dos lados onde o sol fimba∗ no mar, uma pequena e
gorda nuvem negra aparece para correr no céu azul e, na corrida, começa a ficar
grande, a estender braços para todos os lados, esses braços a ficarem outros braços e
esses ainda outros mais finos, já não tão negros, e todo esse apressado caminhar da
nuvem no céu parece os ramos de muitas folhas de uma mulemba velha, com barbas
e tudo, as folhas de muitas cores, algumas secas com o colorido que o sol lhes põe e,
no fim mesmo, já ninguém que sabe como nasceram, onde começaram, onde acabam
essas malucas filhas da nuvem correndo sobre a cidade, largando água pesada e
quente que traziam, rindo compridos e tortos relâmpagos, falando a voz grossa de
seus trovões, assim, nessa tarde calma, começou a confusão.
Sô Zé da quitanda tinha visto passar nga Zefa rebocando miúdo Beto e
avisando para não adiantar falar mentira, senão ia-lhe pôr mesmo jindungo na
língua. Mas o monandengue refilava, repetia:
— Juro, sangue de Cristo! Vi-lhe bem, mamã, é a Cabíri!...
Falava verdade como todas as vizinhas viram bem, uma gorda galinha de
pequenas penas brancas e pretas, mirando toda a gente, desconfiada, debaixo do
cesto ao contrário onde estava presa. Era essa a razão dos insultos que nga Zefa
tinha posto cm Bina, chamando-lhe ladrona, feiticeira, queria lhe roubar ainda a
galinha e mesmo que a barriga da vizinha já se via, com o mona lá dentro,
adiantaram pelejar.

Miúdo Xico é que descobriu, andava na brincadeira com Beto, seu mais novo,
fazendo essas partidas vavô Petelu tinha-lhes ensinado, de imitar as falas dos
animais e baralhar-lhes e quando vieram no quintal de mamã Bina pararam
admirados. A senhora não tinha criação, como é ouvia-se a voz dela, pi, pi, pi,
chamar galinha, o barulho do milho a cair no chão varrido? Mas Beto lembrou os
casos já antigos, as palavras da mãe queixando no pai quando, sete horas, estava
voltar do serviço:
— Rebento-lhe as fuças, João! Está ensinar a galinha a pôr lá!
Miguel João desculpava sempre, dizia a senhora andava assim de barriga, você
sabe, às vezes é só essas manias as mulheres têm, não adianta fazer confusão, se a
galinha volta sempre na nossa capoeira e os ovos você é que apanha... Mas nga Zefa
não ficava satisfeita. Arreganhava o homem era um mole e jurava se a atrevida
tocava na galinha ia passar luta.
— Deixa, Zefa, pópilas! — apaziguava Miguel. — A senhora está concebida
então, homem dela preso e você ainda quer pelejar? Não tens razão!
Por isso, todos os dias, Zefa vigiava embora sua galinha, via-lhe avançar pela
areia, ciscando, esgaravatando a procurar os bichos de comer, mas, no fim, o
caminho era sempre o mesmo, parecia tinha-lhe posto feitiço: no meio de duas
aduelas caídas, a Cabíri entrava no quintal da vizinha e Zefa via-lhe lá debicando,
satisfeita, na sombra das frescas mandioqueiras, muitas vezes Bina até dava-lhe
milho ou massambala∗. Zefa só via os bagos cair no chão e a galinha primeiro a
olhar, banzada, na porta da cubata onde estava sair essa comida; depois começava
apanhar, grão a grão, sem depressa, parecia sabia mesmo não tinha mais bicho ali no
quintal para disputar os milhos com ela. Isso nga Zefa não refilava. Mesmo que no
coração tinha medo, a galinha ia se habituar lá, pensava o bicho comia bem e, afinal,
o ovo vinha-lhe pôr de manhã na capoeira pequena do fundo do quintal dela...
Mas, nessa tarde, o azar saiu. Durante toda a manhã, Cabíri andou a passear no
quintal, na rua, na sombra, no sol, bico aberto, sacudindo a cabeça ora num lado ora
noutro, cantando pequeno na garganta, mas não pôs o ovo dela. Parecia estava ainda
procurar melhor sítio. Nga Zefa abriu a porta da capoeira, arranjou o ninho com
jeito, foi mesmo pôr lá outro ovo, mas nada. A galinha queria lhe fazer pouco, os

olhos dela, pequenos e amarelos, xucululavam na dona, a garganta do bicho cantava,
dizendo:
... ngala ngó ku kakela∗
ká... ká... ká... kakela, kakela...
E assim, quando miúdo Beto veio lhe chamar e falou a Cabíri estava presa
debaixo dum cesto na cubata de nga Bina e ele e Xico viram a senhora mesmo dar
milho, nga Zefa já sabia: a sacrista da galinha tinha posto o ovo no quintal da
vizinha. Saiu, o corpo magro curvado, a raiva que andava guardar muito tempo a
trepar na língua, e sô Zé da quitanda ficou na porta a espiar, via-se bem a zanga na
cara da mulher.
Passou luta de arranhar, segurar cabelos, insultos de ladrona, cabra, feiticeira.
Xico e Beto esquivaram num canto e só quando as vizinhas desapartaram é que
saíram. A Cabíri estava tapada pelo cesto grande mas lhe deixava ver parecia era um
preso no meio das grades. Olhava todas as pessoas ali juntas a falar, os olhos
pequenos, redondos e quietos, o bico já fechado. Perto dela, em cima de capim posto
de propósito, um bonito ovo branco brilhava parecia ainda estava quente, metia raiva
em nga Zefa. A discussão não parava mais. As vizinhas tinham separado as
lutadoras e, agora, no meio da roda das pessoas que Xico e Beto, teimosos e
curiosos, queriam furar, discutiam os casos.
Nga Zefa, as mãos na cintura, estendia o corpo magro, cheio de ossos, os olhos
brilhavam assanhados, para falar:
— Você pensa eu não te conheço, Bina? Pensas? Com essa cara assim, pareces
és uma sonsa, mas a gente sabe!... Ladrona é o que você é!
A vizinha, nova e gorda, esfregava a mão larga na barriga inchada, a cara abria
num sorriso, dizia, calma, nas outras:
— Ai, vejam só! Está-me disparatar ainda! Vieste na minha casa, entraste no
meu quintal, quiseste pelejar mesmo! Sukuama! Não tens respeito, então, assim com
a barriga, nada?!
— Não vem com essas partes, Bina! Escusas! Querias me roubar a Cabíri e o
ovo dela!

— Ih?! Te roubar a Cabíri e o ovo!? Ovo é meu!
Zefa saltou na frente, espetou-lhe o dedo na cara:
— Ovo teu, tuji! A minha galinha é que lhe pôs!
— Pois é, mas pôs-lhe no meu quintal!
Passou um murmúrio de aprovação e desaprovação das vizinhas, toda a gente
falou ao mesmo tempo, só velha Bebeca adiantou puxar Zefa no braço, falou sua
sabedoria:
— Calma então! A cabeça fala, o coração ouve! Pra quê então, se insultar
assim? Todas que estão falar no mesmo tempo, ninguém que percebe mesmo. Fala
cada qual, a gente vê quem tem a razão dela. Somos pessoas, sukua’, não somos
bichos!
Uma aprovação baixinho reforçou as palavras de vavó e toda a gente ficou
esperar. Nga Zefa sentiu a zanga estava-lhe fugir, via a cara das amigas à espera, a
barriga saliente de Bina e, para ganhar coragem, chamou o filho:
— Beto, vem ainda!
Depois, desculpando, virou outra vez nas pessoas e falou, atrapalhada:
— É que o monandengue viu...
Devagar, parecia tinha receio das palavras, a mulher de Miguel João falou que
muito tempo já estava ver a galinha entrar todos os dias no quintal da outra, já sabia
essa confusão ia passar, via bem a vizinha a dar comida na Cabíri para lhe cambular.
E, nesse dia — o mona viu mesmo e Xico também —, essa ladrona tinha agarrado a
galinha com a mania de dar-lhe milho, pôs-lhe debaixo do cesto para adiantar
receber o ovo. A Cabíri era dela, toda a gente sabia e até Bina não negava, o ovo
quem lhe pôs foi a Cabíri, portanto o ovo era dela também.
Umas vizinhas abanaram a cabeça que sim, outras que não, uma menina
começou ainda a falar no Beto e no Xico, a pôr perguntas, mas vavó mandou-lhes
calar a boca.
— Fala então tua conversa, Bina! — disse a velha na rapariga grávida.
— Sukuama! O que é eu preciso dizer mais, vavó? Toda a gente já ouviu
mesmo a verdade. Galinha é de Zefa, não lhe quero. Mas então a galinha dela vem
no meu quintal, come meu milho, debica minhas mandioquei-ras, dorme na minha
sombra, depois põe o ovo aí e o ovo é dela? Sukua’! O ovo foi o meu milho que lhe
fez, pópi-las! Se não era eu dar mesmo a comida, a pobre nem que tinha força de
cantar... Agora ovo é meu, ovo é meu! No olho!...
Virou-lhe o mataco, pôs uma chapada e com o indicador puxou depois a
pálpebra do olho esquerdo, rindo, malandra, para a vizinha que já estava outra vez
no meio da roda para mostrar a galinha assustada atrás das grades do cesto velho.
— Vejam só! A galinha é minha, a ladrona mesmo é que disse. Capim está ali,
ovo ali. Apalpem-lhe! Apalpem-lhe! Está mesmo quente ainda! E está dizer o ovo é
dela! Makutu!∗ Galinha é minha, ovo é meu!
Novamente as pessoas falaram cada qual sua opinião, fazendo um pequeno
barulho que se misturava no xaxualhar das mandioqueiras e fazia Cabíri, cada vez
mais assustada, levantar e baixar a cabeça, rodando-lhe, aos saltos, na esquerda e
direita, querendo perceber, mirando as mulheres. Mas ninguém que lhe ligava.
Ficou, então, olhar Beto e Xico, meninos amigos de todos os bichos e conhecedores
das vozes e verdades deles. Estavam olhar o cesto e pensavam a pobre queria sair,
passear embora e ninguém que lhe soltava mais, com a confusão. Nga Bina, agora
com voz e olhos de meter pena, lamentava:
— Pois é, minhas amigas! Eu é que sou a sonsa! E ela que estava ver todos os
dias eu dava milho na galinha, dava massambala, nada que ela falava, deixava só,
nem obrigado... Isso não conta? Pois é! Querias!? A galinha gorda com o meu milho
e o ovo você é que lhe comia?!...
Vavó interrompeu-lhe, virou nas outras mulheres — só mulheres e monas é
que tinha, nessa hora os homens estavam no serviço deles, só mesmo os vadios e os
chulos estavam dormir nas cubatas — e falou:
— Mas então, Bina, você queria mesmo a galinha ia te pôr um ovo?
A rapariga sorriu, olhou a dona da galinha, viu as caras, umas amigas outras
caladas com os pensamentos e desculpou:
— Pópilas! Muitas de vocês que tiveram vossas barrigas já. Vavó sabe mesmo,
quando chega essa vontade de comer uma coisa, nada que a gente pode fazer. O
mona na barriga anda reclamar ovo. Que é eu podia fazer, me digam só?!
— Mas ovo não é teu! A galinha é minha, ovo é meu! Pedias! Se eu quero dou,
se eu quero não dou!

Nga Zefa estava outra vez raivosa. Essas vozes mansas e quietas de Bina
falando os casos do mona na barriga, desejos de gravidez, estavam atacar o coração
das pessoas, sentia se ela ia continuar falar com aqueles olhos de sonsa, a mão a
esfregar sempre a barriga redonda debaixo do vestido, derrotava-lhe, as pessoas iam
mesmo ter pena, desculpar essa fome de ovo que ela não tinha a culpa... Virou-se
para vavó, a velha chupava sua cigarrilha dentro da boca, soprava o fumo e cuspia.
— Então, vavó?!... Fala então, a senhora é que é nossa mais velha...
Toda a gente calada, os olhos parados na cara cheia de riscos e sabedoria da
senhora. Só Beto e Xico, abaixados junto do cesto, conversavam com a galinha,
miravam suas pequenas penas assustadas a tremer com o vento, os olhos redondos a
verem os sorrisos amigos dos meninos. Puxando o pano em cima do ombro, velha
Bebeca começou:
— Minhas amigas, a cobra enrolou no muringue! Se pego o muringue, cobra
morde; se mato a cobra, o muringue parte!... Você, Zefa, tem razão: galinha é sua,
ovo da barriga dela é seu! Mas Bina também tem razão dela: ovo foi posto no
quintal dela, galinha comia milho dela... O melhor perguntamos ainda no sô Zé... Ele
é branco!...
Sô Zé, dono da quitanda, zarolho e magro, estava chegar chamado pela
confusão. Nessa hora, a loja ficava vazia, fregueses não tinha, podiam-lhe deixar
assim sozinha.
— Sô Zé! O senhor, faz favor, ouve ainda estes casos e depois ponha sua
opinião. Esta minha amiga...
Mas toda a gente adiantou interromper vavó. Não senhor, quem devia pôr os
casos era cada qual, assim ninguém que ia falar depois a velha tinha feito batota,
falando melhor um caso que outro. Sô Zé concordou. Veio mais junto das
reclamantes e com seu bonito olho azul bem na cara de Zefa, perguntou:
— Então, como é que passou?
Nga Zefa começou contar, mas, no fim, já ia esquivar o caso de espreitar o
milho que a vizinha dava todos os dias, e vavó acrescentou:
— Fala ainda que você via-lhe todos os dias pôr milho para a Cabíri!
— Verdade! Esqueci. Juro não fiz de propósito...
Sô Zé, paciente, as costas quase marrecas∗, pôs então um sorriso e pegou Bina
no braço.
— Pronto! Já sei tudo. Tu dizes que a galinha pôs no teu quintal, que o milho
que ela comeu é teu e, portanto, queres o ovo. Não é?
Com essas palavras assim amigas, de sô Zé, a mulher nova começou a rir;
sentia já o ovo ia ser dela, era só furar-lhe, dois buracos pequenos, chupar, chupar e
depois lamber os beiços mesmo na cara da derrotada. Mas quando olhou-lhe outra
vez, sô Zé já estava sério, a cara dele era aquela máscara cheia de riscos e buracos
feios onde só o olho azul bonito brilhava lá no fundo. Parecia estava atrás do balcão
mirando com esse olho os pratos da balança quando pesava, as medidas quando
media, para pesar menos, para medir menos.
— Ouve lá! — falou em nga Bina, e a cara dela apagou logo-logo o riso, ficou
séria, só a mão continuava fazer festas na barriga. — Esse milho que deste na Cabíri...
é daquele que te vendi ontem?
— Isso mesmo, sô Zé! Ainda bem, o senhor sabe...
— Ah, sim!? O milho que te fiei ontem? E dizes que o ovo é teu? Não tens
vergonha?...
Pôs a mão magra no ombro de vavó e, com riso mau, a fazer pouco, falou
devagar:
— Dona Bebeca, o ovo é meu! Diga-lhes para me darem o ovo. O milho ainda
não foi pago!...
Um grande barulho saiu nestas palavras, ameaças mesmo, as mulheres
rodearam o dono da quitanda, insultando, pondo empurrões no corpo magro e torto,
enxotando-lhe outra vez na casa dele.
— Vai ‘mbora, güeta da tuji!∗
— Possa! Este homem é ladrão. Vejam só!
Zefa gritou-lhe quando ele entrou outra vez na loja, a rir, satisfeito:
— Sukuama! Já viram? Não chega o que você roubaste no peso, não é, güeta
camuelo?!
Mas os casos não estavam resolvidos.

Quando parou o riso e as falas dessa confusão com o branco, nga Zefa e nga
Bina ficaram olhar em vavó, esperando a velha para resolver. O sol descia no seu
caminho do mar de Belas e o vento, que costuma vir no fim da tarde, já tinha
começado a chegar. Beto e Xico voltaram para junto do cesto e deixaram-se ficar ali
a mirar outra vez a galinha Cabíri. O bicho tinha-se assustado com todo o barulho
das macas com sô Zé, mas, agora, sentindo o ventinho fresco a coçar-lhe debaixo
das asas e das penas, aproveitou o silêncio e começou cantar.
— Sente, Beto! — sussurrou-se Xico. — Sente só a cantiga dela!
E desataram a rir ouvindo o canto da galinha, eles sabiam bem as palavras,
velho Petelu tinha-lhes ensinado.
— Calem-se a boca, meninos. Estão rir de quê então? — a voz de vavó estava
quase zangada.
— Beto, venha cá! Estás rir ainda, não é? Querem-te roubar o ovo na sua mãe
e você ri, não é?
O miúdo esquivou para não lhe puxarem as orelhas ou porem chapada, mas
Xico defendeu-lhe:
— Não é, vavó! É a galinha, está falar conversa dela!
— Oh! Já sei os bichos falam com os malucos. E que é que está dizer?,.. Está
dizer quem que é dono do ovo?...
— Cadavez, vavó!... Sô Petelu é que percebe bem, ele m’ensinou!
Vavó Bebeca sorriu; os seus olhos brilharam e, para afastar um pouco essa
zanga que estava em todas as caras, continuou provocar o mona:
— Então, está dizer é o quê? Se calhar está falar o ovo...
Aí Beto saiu do esconderijo da mandioqueira e nem deixou Xico começar, ele
é que adiantou:
— A galinha fala assim, vavó:
Ngêxile kua ngana Zefa
Ngala ngó ku kakela
Ka...ka...ka...kakela, kakela...
E então Xico, voz dele parecia era caniço, juntou no amigo e os dois
começaram cantar imitando mesmo a Cabíri, a galinha estava burra, mexendo a
cabeça, ouvindo assim a sua igual a falar mas nada que via.
... ngêjile kua ngana Bina
Ala kiá ku kuata
kua... kua... kua... kuata, kuata!∗
E começaram fingir eram galinhas a bicar o milho no chão, vavó é que lhes
ralhou para calarem, nga Zefa veio mesmo dar berrida no Beto, e os dois amigos
saíram nas corridas fora do quintal.
Mas nem um minuto que demoraram na rua. Xico veio na frente, satisfeito, dar
a notícia em vavó Bebeca:
— Vavó! Azulinho vem aí!
— Chama-lhe, Xico! Não deixa ele ir embora!
Um sorriso bom pousou na cara de todos, nga Zefa e nga Bina respiraram,
vavó deixou fugir alguns riscos que a preocupação do caso tinha-lhe posto na cara.
A fama de Azulinho era grande no musseque, menino esperto como ele não tinha,
mesmo que só de dezasseis anos não fazia mal, era a vaidade de mamã Fuxi, o sô
padre do Seminário até falava ia lhe mandar estudar mais em Roma. E mesmo que
os outros monas e alguns mais velhos faziam-lhe pouco porque o rapaz era fraco e
com uma bassula de brincadeira chorava, na hora de falar sério, tanto faz é latim,
tanto faz é matemática, tanto faz é religião, ninguém que duvidava: Azulinho sabia.
João Pedro Capita era nome dele, e Azulinho alcunhavam-lhe por causa esse fato de
fardo∗ que não largava mais, calor e cacimbo, sempre lhe vestia todo bem
engomado.
Vavó chamou-lhe então e levou-lhe no meio das mulheres para saber os casos.
O rapaz ouvia, piscava os olhos atrás dos óculos, puxava sempre os lados do casaco
para baixo, via-se na cara dele estava ainda atrapalhado no meio de tantas mulheres,
muitas eram só meninas mesmo, e a barriga inchada e redonda de nga Bina, na
frente dele, fazia-lhe estender as mãos sem querer, parecia tinha medo a mulher ia
lhe tocar com aquela parte do corpo.
— Veja bem, menino! Estes casos já trouxeram muita confusão, o senhor sabe,

agora é que vai nos ajudar. Mamã diz tudo quanto tem, o menino sabe!...
Escondendo um riso vaidoso, João Pedro, juntando as mãos parecia já era
mesmo sô padre, falou:
— Eu vos digo, senhora! A justiça é cega e tem uma espada...
Limpou a garganta a procurar as palavras e toda a gente viu a cara dele rir com
as idéias estavam nascer, chegavam-lhe na cabeça, para dizer o que queria.
— Vós tentais-me com a lisonja! E, como Jesus Cristo aos escribas, eu vos
digo: não me tenteis! E peço-vos que me mostrem o ovo, como Ele pediu a moeda...
Foi Beto, com sua técnica, que tirou o ovo sem assustar a Cabíri que gostava
bicar quando faziam isso, cantando-lhe em voz baixa as coisas que tinha aprendido
para falar nos animais. Com o ovo na mão, virando-lhe sobre a palma branca,
Azulinho continuou, parecia era só para ele que estava falar, as pessoas nem estavam
perceber bem o que ele falava, mas ninguém que lhe interrompia, o menino tinha
fama:
— Nem a imagem de César, nem a imagem de Deus!
Levantou os olhos gastos atrás dos óculos, mirou cada vez Zefa e Bina,
concluiu:
— Nem a marca da tua galinha, Zefa; nem a marca do teu milho, Bina! Não
posso dar a César o que é de César, nem a Deus o que é de Deus. Só mesmo padre
Júlio é que vai falar a verdade. Assim... eu levo o ovo, vavó Bebeca!
Um murmúrio de aprovação saiu do grupo, mas nga Zefa não desistiu: o ovo
não ia lhe deixar voar no fim de passar tanta discussão. Saltou na frente do rapaz,
tirou-lhe o ovo da mão, muxoxou:
— Sukuama! Já viram? Agora você quer levar o ovo embora no sô padre, não
é? Não, não pode! Com a sua sapiência não me intrujas, mesmo que nem sei ler nem
escrever, não faz mal!
Azulinho, um pouco zangado, fez gesto de despedir, curvou o corpo, levantou
a mão com os dedos postos como sô padre e saiu falando sozinho:
— Pecadoras! Queriam me tentar! As mulheres são o Diabo...
Com o tempo a fugir para a noite e as pessoas a lembrar o jantar para fazer,
quando os homens iam voltar do serviço não aceitavam essa desculpa da confusão
da galinha, algumas mulheres saíram embora nas suas cubatas falando se calhar
vavó não ia poder resolver os casos sem passar chapada outra vez. Mas nga Zefa não
desistia: queria levar o ovo e a galinha. Dona Bebeca tinha-lhe recebido o ovo para
guardar, muitas vezes a mulher com a raiva, ia-lhe partir ali mesmo. Só a coitada da
Cabíri, cansada com isso tudo, estava deitada outra vez no ninho de capim, à espera.
Foi nessa hora que nga Mília avistou, no outro fim da rua, descendo do
maximbombo, sô Vitalino.
— Aiuê, meu azar! Já vem esse homem me cobrar outra vez! João ainda não
voltou no Lucala, como vou lhe pagar? Fujo! Logo-é!...
Saiu, nas escondidas, pelo buraco do quintal, tentando esquivar nos olhos do
velho.
Todo aquele lado do musseque tinha medo de sô Vitalino. O homem, nos dias
do fim do mês, descia do maximbombo, vinha com a bengala dele, de castão de
prata, velho fato castanho, o grosso capacete cáqui, receber as rendas das cubatas
que tinha ali. E nada que perdoava, mesmo que dava encontro o homem da casa
deitado na esteira, comido na doença, não fazia mal: sempre arranjava um amigo
dele, polícia ou adminstração, para ajudar correr com os infelizes. Nesse mês vinha
logo receber e só em nga Mília aceitou desculpa. A verdade, todos sabiam o homem
dela, fogueiro do Cê-Êfe-Éle∗ estava para Malanje, mas o velho tinha outras idéias
na cabeça: gostava segurar o bonito e redondo braço cor de café-com-leite de Emília
quando falava, babando pelos buracos dos dentes, que não. precisava ter
preocupação, ele sabia bem era uma mulher séria. Pedia licença, entrava na cubata
para beber caneca de água fresca no muringue, pôr festas nos monas e saía sempre
com a mesma conversa, nga Mília não percebia onde é o velho acabava a amizade e
começava a ameaça:
— Tenha cuidado, dona Emília! A senhora está nova, essa vida de trabalho não
lhe serve... Esse mês eu desculpo, volto na semana, mas pense com a cabeça; não
gostava antes morar no Terra-Nova, uma casa de quintal com paus de fruta, ninguém
que lhe aborrece no fim do mês com a renda?... Veja só!
Nga Emília fingia não estava ouvir, mas no coração dela a raiva só queria que
seu homem estivesse aí quando o velho falasse essas porcarias escondidas, para lhe
pôr umas chapadas naquele focinho de porco...

Vendo o proprietário avançar pela areia arrastando os grossos sapatos,
encostado na bengala, vavó Bebeca pensou tinha de salvar Emília e o melhor era
mesmo agarrar o velho.
— Boa-tarde, sô Vitalino!
— Boa-tarde, dona!
— Bessá, vavô Vitalino!... — outras mulheres faziam também coro com
Bebeca, para muximar∗.
Xico e Beto, esses, já tinham corrido e, segurando na bengala, no capacete,
andavam à volta dele, pedindo sempre aquilo que nenhum mona ainda tinha
recebido desse camuelo.
— Me dá ‘mbora cinco tostões!
— Cinco tostões, vavô Lino! P’ra quiqüerra∗!
O velho parou para limpar a testa com um grande lenço vermelho que pôs
outra vez no bolso do casaco, dobrando-lhe com cuidado:
— Boa-tarde, senhoras! — e os olhos dele, pequenos pareciam eram
missangas, procuraram em todas as caras a cara que queria. Vavó adiantou:
— Ainda bem que o senhor veio, senhor sô Vitalino. Ponha ainda sua opinião
nestes casos. Minhas amigas aqui estão discutir...
Falou devagar e ninguém que lhe interrompeu: para sô Vitalino, dono de
muitas cubatas, que vivia sem trabalhar, os filhos estudavam até no liceu, só mesmo
vavó é que podia pôr conversa de igual. Das outras não ia aceitar, com certeza
disparatava-lhes.
— Quer dizer, dona Bebeca: o ovo foi posto aqui no quintal da menina Bina,
não é?
— Verdade mesmo! — sorriu-se Bina.
Tirando o capacete, sô Vitalino olhou na cara zangada de Zefa com olhos de
corvo c, segurando-lhe no braço, falou, a fazer troça:
— Menina Zefa! A senhora sabe de quem é a cubata onde está morar a sua
vizinha Bina?
— Ih?! É do senhor.

— E sabe também sua galinha pôs um ovo no quintal dessa minha cubata?
Quem deu ordem?
— Elá! Não adianta desviar assim as conversas, sô Vitalino...
— Cala a boca! — zangou o velho. — A cubata é minha, ou não é?
As mulheres já estavam a ver o caminho que sô Vitalino queria, começaram
refilar, falar umas nas outras, está claro, esse assunto para o camuelo resolver, o
resultado era mesmo aquele, já se sabia. Nga Bina ainda arreganhou-lhe chegando
bem no velho, encostando a barriga gorda parecia queria-lhe empurrar para fora do
quintal.
— E eu não paguei a renda, diz lá, não paguei, sô Vitalino?
— É verdade, minha filha, pagaste! Mas renda não é cubata, não é quintal!
Esses são sempre meus, mesmo que você paga, percebe?
As mulheres ficaram mais zangadas com essas partes, mas Bina ainda tentou
convencer;
— Vê ainda, sô Vitalino! A cubata é do senhor, não discuto. Mas sempre que
as pessoas paga renda no fim do mês, pronto já! Fica pessoa como dono, não é?
Velho Vitalino riu os dentes pequenos e amarelos dele, mas não aceitou.
— Vocês têm cada uma!... Não interessa, o ovo é meu! Foi posto na cubata
que é minha! Melhor vou chamar o meu amigo da polícia...
Toda a gente já lhe conhecia esses arreganhos e as meninas mais velhas
uatobaram∗. Xico e Beto, esses, continuaram sacudir-lhe de todos os lados para
procurar receber dinheiro e vavó mais nga Bina vieram mesmo empurrar-lhe na rua,
metade na brincadeira, metade a sério. Vendo-lhe desaparecer a arrastar os pés pelo
areal vermelho, encostado na bengala, no caminho da cubata de nga Mília, velha
Bebeca avisou:
— Não perde teu tempo, sô Vitalino! Emília saiu embora na casa do amigo
dela... É um rapaz da polícia! Com esse não fazes farinha!
E os risos de todas as bocas ficaram no ar dando berrida na figura torta e
atrapalhada do proprietário Vitalino.
Já eram mais que cinco horas, o sol mudava sua cor branca e amarela.
Começava ficar vermelho, dessa cor que pinta o céu e as nuvens e as folhas dos

paus, quando vai dormir no meio do mar, deixando a noite para as estrelas e a lua.
Com a saída de sô Vitalino, assim corrido e feito pouco, parecia os casos não iam se
resolver mais. Nga Zefa, tão assanhada no princípio, agora mirava a Cabíri debaixo
do cesto e só Bina queria convencer ainda as vizinhas ela mesmo é que tinha direito
de receber o ovo,
— Mas não é? Estou pôr mentira? Digam só? Quando essas vontades atacam,
temos que lhes respeitar...
Não acabou conversa dela, toda a gente olhou no sítio onde que saía uma voz
de mulher a insultar. Era do outro lado do quintal, na cubata da quitata∗ Rosália e as
vizinhas espantaram, já muito tempo não passava confusão ali, mas parecia essa
tarde estava chamar azar, tinha feitiço. Na porta, mostrando o corpo dela já velho
mas ainda bom, as mamas gordas a espreitar no meio da combinação, Rosália
xingava, dava berrida no homem.
— Vai ‘mbora, hom’é! Cinco e meia mesmo e você dormiu toda a tarde?
Pensas sou teu pai, ou quê? Pensas? Tunda, vadio! Vai procurar serviço!
Velho Lemos nem uma palavra que falava nessa mulher quando ela, nas horas
que queria preparar para receber os amigos — todo o musseque sabia, parece só ele
mesmo é que fingia não estava perceber o dinheiro da comida donde vinha —,
adiantava enxotar-lhe fora da cubata. Sô Lemos metia as mãos nos bolsos das calças
amarrotadas e puxando sua perna esquerda atacada de doença, gorda parecia
imbondeiro, arrastava os quedes pela areia e ia procurar pelas quitandas casos e
confusões para descobrir ainda um trabalho de ganhar para o abafado e os cigarros.
É que a vida dele era tratar de macas. Antigamente, antes de adiantar beber e
estragar a cabeça, sô Artur Lemos trabalhava no notário. Na sua casa podiam-se
ainda encontrar grossos livros encadernados, processo penal, processo civil, boletim
oficial, tudo, parecia era casa de advogado. E as pessoas, quando queriam, quando
andavam atrapalhadas com casos na administração era sô Artur que lhes ajudava.
Ainda hoje, quando as vizinhas davam encontro com Rosália na porta,
esperando os fregueses, ninguém que podia fazer pouco o homem dela. Enganavalhe
com toda a gente, às vezes chamava até os monandengues para pôr brincadeiras
que os mais velhos não aceitavam, mas na hora de xingarem-lhe o marido ela ficava

parecia era gato assanhado.
— Homem como ele, vocês não encontram! Têm mas é raiva! É verdade o
corpo está podre, não serve. Mas a cabeça é boa, a sabedoria dele ninguém que tem!
E é mesmo verdade que não autorizava mexer nos livros arrumados na
prateleira, cheios de pó e teias de aranha, e, sempre vaidosa, lhes mostrava:
— Vejam, vejam! Tudo na cabeça dele! E os vossos homens? Na cama sabem,
mas na cabeça é tuji só!...
Ria-se, justificava, encolhia os ombros:
— P’ra cama a gente arranja sempre. E ainda pagam! Agora com a cabeça
dele... Tomara!
As vizinhas gozavam, falavam essas palavras ele é que tinha ensinado para não
lhe fazerem pouco de corno, mas Rosália não ligava. Nem mesmo quando os monas,
aborrecidos de todas as brincadeiras, saíam atrás do homem dela, xingando sua
alcunha.
— Vintecinco linhas! Vintecinco linhas!...
Porque era a palavra de feitiço, em todos os casos sô Lemos falava logo:
— Fazemos um vintecinco linhas, é caso arrumado!
E se adiantava receber dinheiro para o papel, muitas vezes ia-lhe beber com
Francesinho, Quirino, Kutatuji e outros vagabundos como eles, nalguma quitanda
mais para São Paulo.
Pois nessa hora, quando vavó já estava para desistir, é que viram mesmo sô
Artur Lemos e correram a lhe chamar: o homem, com sua experiência de macas, ia
talvez resolver o assunto. Avisando Beto e Xico para não adiantarem xingar o velho,
vavó, com ajuda das interessadas, expôs os casos.
Parecia uma vida nova entrava no corpo estragado do antigo ajudante de
notário. O peito respirava mais direito, os olhos não lacrimejavam tanto e, quando
mexia, até a perna nada que coxeava. Abriu os braços, começou empurrar as
pessoas; tu para aqui, tu para ali, fica quieto e, no fim, com vavó Bebeca na frente
dele, pondo Bina na esquerda e nga Zefa na direita, coçou o nariz, começou:
— Pelos vistos, e ouvida a relatora e as partes, trata-se de litígio de
propriedade com bases consuetu-dinárias...
As mulheres olharam-se, espantadas, mas ninguém que disse nada; Vintecinco
linhas continuou, falando para nga Zefa:
— Diz a senhora que a galinha é sua?
— Sim, sô Lemos.
— Tem título de propriedade?
— Ih? Tem é o quê?
— Título, dona! Título de propriedade! Recibo que prova que a galinha é sua!
Nga Zefa riu:
— Sukuama! Ninguém no musseque que não sabe a Cabíri é minha, sô Lemos.
Recibo de quê então?
— De compra, mulher! Para provarmos primeiro que a galinha é tua!
— Possa! Esse homem... Compra?! Então a galinha me nasceu-me doutra
galinha, no meu quintal, como é vou ter recibo?
Sem paciência, sô Lemos fez sinal para ela se calar e resmungou à toa:
— Pois é! Como é que as pessoas querem fazer uso da justiça, se nem
arranjam os documentos que precisam?
Coçando outra vez o nariz, olhou para nga Bina que sorria, satisfeita com essas
partes do velho, e perguntou:
— E a senhora, pode mostrar o recibo do milho? Não? Então como é eu vou
dizer quem tem razão? Como? Sem documentos, sem provas nem nada? Bem...
Olhou direito na cara das pessoas todas, virou os olhos para Beto e Xico
abaixados junto do cesto da galinha e recebeu o ovo de vavó Bebeca.
— A senhora, dona Bina, vamos pôr queixa contra sua vizinha, por
intromissão na propriedade alheia com alienação de partes da mesma... isto é: o
milho!
Nga Bina abriu a boca para falar, mas ele continuou:
— Quanto à senhora, dona Zefa, requerimentare-mos sua vizinha por tentativa
de furto e usufruto do furto!... Preciso cinco escudos cada uma para papel!
Uma grande gargalhada tapou-lhe as últimas palavras e, no fim do riso, vavó
quis lhe arrancar a resposta:
— Mas, sô Lemos, diz então! Quem é que tem a razão?
— Não sei, dona! Sem processo para julgar não pode-se saber a justiça,
senhora! Fazemos os requerimentos...
Toda a gente continuou rir e Beto e Xico aproveitaram logo para começar fazer
pouco. Derrotado pelo riso, vendo que não ia conseguir esse dinheiro para beber
com os amigos, sô Lemos, empurrado por vavó quase a chorar com as gargalhadas,
tentou a última parte:
— Oiçam ainda! Eu levo o ovo, levo-lhe no juiz meu amigo e ele fala a
sentença...
— O ovo, no olho! — gritou-lhe, zangada, nga Zefa. O tempo tinha passado,
conversa, conversa e nada que resolveram e, com essas brincadeiras assim, muitas
vezes a saliente da Bina ia lhe chupar o ovo.
Da rua ainda se ouvia a voz rouca de sô Lemos zunindo pedradas em Beto e
Xico que não tinham-lhe largado com as piadas. Levantando o punho fraco, o velho
insultava-lhes:
— Maliducados! Vagabundos! Delinquentes!
Depois, parando e enchendo o peito de ar, atirou a palavra que lhe dançava na
cabeça, essa palavra que estava nos jornais que lia:
— Seus ganjésteres!∗
E, feliz com esse insulto, saiu pelos tortos caminhos do musseque, rebocando a
perna inchada.
Quando as vizinhas viram que nem sô Lemos sabia resolver os casos, e ao
sentirem o vento mais fresco que soprava e o sol, mais perto do mar, lá para longe
para trás da Cidade Alta, começaram falar o melhor era esperar os homens quando
voltassem no serviço, para resolver. Nga Bina não aceitou:
— Pois é! Mas o meu homem está na esquadra, e quem vai me defender?
Mas nga Zefa é que estava mesmo furiosa: sacudindo velha Bebeca do
caminho, avançou arreganhadora para o cesto, adiantar agarrar a galinha. E aí
começou outra vez a luta. Bina pegou-lhe no vestido que rasgou logo no ombro;
Zefa deu-lhe com uma chapada, agarraram-se, pondo socos e insultos.
— Sua ladrona! Cabra, queres o meu ovo!
— Aiuê, acudam! A bater numa grávida então!...
A confusão cresceu, ficou quente, as mulheres cada qual a tentar desapartar e
as reclamantes a quererem ainda pôr pontapés, Beto e Xico a rir, no canto do quintal

para onde tinham rebocado a Cabíri que, cada vez mais banzada, levantava o
pescoço, mexia a cabeça sem perceber nada e só os miúdos é que percebiam o ké,
ké, ké dela. No meio da luta já ninguém que sabia quem estava segurar, parecia a
peleja era mesmo de toda a gente, só se ouviam gritos, lamentos, asneiras, tudo
misturado com o cantar da galinha assustada, os risos dos monandengues, o vento
nas folhas das mandioqueiras e aquele barulho que o musseque começa a crescer
quando a noite avança e as pessoas de trabalhar na Baixa voltam nas suas cubatas.
Por isso ninguém que deu conta a chegada da patrulha.
Só mesmo quando o sargento começou aos socos nas costas é que tudo calou e
começaram ainda arranjar os panos, os lenços da cabeça, coçar os sítios das
pancadas. Os dois soldados tinham também entrado atrás do chefe deles, sem licença
nem nada, e agora, um de cada lado do grupo, mostravam os cassetetes brancos,
ameaçando e rindo. Mas o sargento, um homem gordo e baixo todo suado, tinha
tirado o capacete de aço e arreganhava:
— Bando de vacas! Que raio de coisa é esta? Eh!? O que é que sucedeu?
Ninguém que respondeu, só alguns muxoxos. Vavó Bebeca avançou um passo.
— Não ouvem, zaragateiras? O que é isto aqui? Uma reunião?
— Ih?! Reunião de quê então? — vavó, zangada, refilava.
— Vamos, conta lá, avozinha! Por que é que estavam à porrada? Depressa,
senão levo tudo para a polícia.
Vavó viu nos olhos do soldado o homem estava falar verdade e, então,
procurou ajuda nas outras pessoas. Mas as caras de todas não diziam nada, estavam
olhar no chão, o ar, o canto onde Beto e Xico não tinham saído com o cesto, os dois
soldados rodeando todo o grupo. No fim, olhando o homem gordo, falou devagar, a
explorar ainda:
— Sabe! O senhor soldado vai-nos desculpar...
— Soldado, uma merda! Sargento!
— Ih?! E sargento não é soldado?...
— Deixa-te de coisas, chiça!∗ Estou quase a perder a paciência. Que raio de
chinfrim é este?
Vavó contou, procurando cm Zefa e Bina cada vez que falava para ver a

aprovação das suas palavras, toda a confusão da galinha e do ovo e por que estavam
pelejar. O sargento, mais risonho, olhava também a cara das mulheres para descobrir
a verdade daquilo tudo, desconfiado que o queriam enganar.
— E os vossos homens onde estão?
Foi nga Bina quem respondeu primeiro, falando o homem dela estava na
esquadra e ela queria o ovo, assim grávida estava-lhe apetecer muito. Mas o sargento
nem lhe ligou; abanava a cabeça, depois disse entredentes:
— Na polícia, hein? Se calhar é terrorista... E a galinha?
Todas as cabeças viraram para o canto, nas man-dioqueiras, onde os meninos,
abaixados à volta do cesto, guardavam a Cabíri. Mas nem com os protestos de nga
Zefa e o refilanço das outras amigas, o soldado aceitou: foi lá e, metendo a mão
debaixo do cesto, agarrou a galinha pelas asas, trazendo-lhe assim para entregar ao
sargento. A Cabíri nem piava, só os olhos dela, maiores com o medo, olhavam os
amigos Beto e Xico, tristes no canto. O sargento agarrou-lhe também pelas asas e
encostou o bicho à barriga gorda. Cuspiu e, diante da espera de toda a gente — nga
Zefa sentia o coração bater parecia ngoma, Bina rindo para dentro —, falou:
— Como vocês não chegaram a nenhuma conclusão sobre a galinha e o ovo,
eu resolvo...
Riu, os olhos pequenos quase desapareceram no meio da gordura das
bochechas dele e piscando-lhes para os ajudantes, arreganhou:
— Vocês estavam a alterar a ordem pública, neste quintal, desordeiras!
Estavam reunidas mais de duas pessoas, isso é proibido! E, além do mais, com essa
mania de julgarem os vossos casos, tentavam subtrair a justiça aos tribunais
competentes! A galinha vai comigo, apreendida, e vocês toca a dispersar! Vamos!
Circulem, circulem para casa!
Os soldados, ajudando, começaram a girar os cassetetes brancos em cima da
cabeça. Muitas que fugiram logo, mas nga Zefa era rija, acostumada a lutar sempre,
e não ia deixar a galinha dela ir assim para churrasco do soldado, como esses
homens da patrulha queriam. Agarrou-se no sargento, queria segurar a galinha, mas
o homem empurrou-lhe, levantando o bicho alto, por cima da cabeça, onde a Cabíri,
assustada, começou piar, sacudir o corpo gordo, arranhando o braço do soldado com
as unhas.
— Ei, ei, ei! Mulherzinha, calma! Senão ainda te levo presa, vais ver! ‘tá
quieta!
Mas, nessa hora, enquanto nga Zefa tentava tirar a galinha das mãos do gordo
sargento, debaixo do olhar gozão de vavó Bebeca, nga Bina e outras que tinham
ficado ainda, é que sucedeu aquilo que parecia feitiço e baralhou toda a gente
enquanto não descobriram a verdade.
Quando o soldado foi tirar a galinha debaixo do cesto, Beto e Xico miraram-se
calados. E se as pessoas tivessem dado atenção nesse olhar tinham visto logo nem os
soldados que podiam assustar ou derrotar os meninos de musseque. Beto falou na
orelha de Xico:
— É isso, Xico! Esses gajos não vão levar a Cabíri assim à toa! Temos de lhes
atacar com a nossa técnica!...
— Vamos, Beto! Com depressa!
— Não, você ficas! P’ra disfarçar...
E Beto, parecia era gato, passou o corpo magro no buraco das aduelas
desaparecendo, nas corridas, por detrás da quitanda. Xico esticou as orelhas com
atenção esperando mesmo esse sinal que ia salvar a Cabíri. E foi isso que as pessoas,
banzadas, ouviram quando o sargento queria ainda esquivar a galinha dos braços
compridos e magros de nga Zefa.
Só eram mesmo cinco e meia quase, o sol ainda brilhava muito e a noite vinha
longe. Ainda se estivesse fresco, mas não: o calor era pesado e gordo em cima do
musseque. Como é um galo tinha-se posto assim, naquela hora, a cantar alegre e
satisfeito, a sua cantiga de cam-bular galinhas? As pessoas pasmadas e até a Cabíri
deixou de mexer, só a cabeça virava em todos os lados, revirando os olhos, a
procurar no meio do vento esse cantar conhecido que lhe chamava, que lhe dizia o
companheiro tinha encontrado bicho de comer ou sítio bom de tomar banho de areia.
Maior que todos os barulhos, do lado de lá da quitanda de sô Zé, vinha, novo, bonito
e confiante, o cantar dum galo, desafiando a Cabíri...
E, então, sucedeu: Cabíri espetou com força as unhas dela no braço do
sargento, arranhou fundo, fez toda a força nas asas e as pessoas, batendo palmas,
uatobando e rindo, fazendo pouco, viram a gorda galinha sair a voar por cima do
quintal, direita e leve, com depressa, parecia era ainda pássaro de voar todas as
horas. E como cinco e meia já eram, e o céu azul não tinha nem uma nuvem daquele
lado sobre o mar, também azul e brilhante, quando todos quiseram seguir Cabíri no
vôo dela na dire-ção do sol, só viram, de repente, o bicho ficar num corpo preto no
meio, vermelho dos lados e, depois desaparecer na fogueira dos raios do sol...
Ainda com as mãos nos olhos magoados da luz, o sargento e os soldados
saíram resmungando a ocasião perdida de um churrasco sem pagar. As mulheres
miravam-lhes com os olhos gozões, as meninas riam. O vento veio soprar devagar as
folhas das mandioqueiras. Nga Zefa sentia o peito leve e vazio, um calor bom a
encher-lhe o corpo todo: no meio do cantar do galo, ela sabia estava sair no quintal
dela, conheceu muito bem a voz do filho, esse malandro miúdo que imitava as falas
de todos os bichos, enganando-lhes. Chamou Xico, riu nas vizinhas e pondo festas
nos cabelos do monandengue, falou-lhes, amiga:
— Foi o Beto! Parecia mesmo era galo. Aposto a Cabíri já está na capoeira...
Vavó Bebeca sorriu também. Segurando o ovo na mão dela, seca e cheia de
riscos dos anos, entregou para Bina.
— Posso, Zefa?...
Envergonhada ainda, a mãe de Beto não queria soltar o sorriso que rebentava
na cara dela. Para disfarçar, começou dizer só:
— É, sim, vavó! É a gravidez. Essas fomes, eu sei... E depois o mona na
barriga reclama!...
De ovo na mão, Bina sorria. O vento veio devagar e, cheio de cuidados e
amizade, soprou-lhe o vestido gasto contra o corpo novo. Mergulhando no mar, o sol
punha pequenas escamas vermelhas lá embaixo nas ondas mansas da Baía. Diante de
toda a gente e nos olhos admirados e monandengues de miúdo Xico, a barriga
redonda e rija de nga Bina, debaixo do vestido, parecia era um ovo grande, grande...

Minha estória.
Se é bonita, se é feia, vocês é que sabem. Eu só juro não falei mentira e estes
casos passaram nesta nossa terra de Luanda.
Luanda, 1963/Lisboa, 1972 123



Vocabulário:
∗ Ala kiá ku kuata — vim para casa da senhora Bina; estão já a agarrar;
∗ Cê-Éfe-Ele — C.F.L. ou Caminho de Ferro de Luanda;
∗ chiça! — porra!;
∗ fardo — roupa usada que vinha enfardada, em pacotes, do exterior (Portugal, EUA) para ser vendida;
∗ fimbar — mergulhar na água;
∗ ganjésteres — gângsteres;
∗ güeta da tuji! — branco de merda!;
∗ makutu! — mentira!;
∗ marreco — corcovado; corcunda;
∗ massambala — sorgo; grama;
∗ muximar — falar ao coração;
∗ ngala ngó ku kakela — estava apenas a cacarejar;
∗ quiqüerra — farinha de mandioca e açúcar;
∗ quitata — mulher da vida, prostituta;
∗ uatobar — fazer troça; zombar.